Utopia – Sidnei de Oliveira

Visita ao Atelier de Morito Ebine

Há bastante tempo que gosto de Marcenaria. A ideia de produzir algo manualmente me agrada.

Na minha infância, nas férias em Paraisópolis-MG, eu ia sempre a Oficina do Tio Waltinho vê-lo trabalhar. O cheiro da madeira serrada, o móvel surgindo… boas lembranças.

Agora, depois de crescido, ando retomando algumas coisas, e mexer com madeira tem sido uma delas, embora esteja no plano das ideias.

Além de ficar pesquisando na internet, fuçando com as madeiras nos fins de semana que consigo, desenhando as ideias que desenvolvo… também fui ao Atelier/Oficina do Marceneiro Morito Ebine em Santo Antônio do Pinhal – SP.

Morito Ebine é uma referência para quem estuda e pratica a Marcenaria. Seu design e a maneira como executa suas peças são únicos. Pra mim, que estou tão próximo do Atelier dele (cerca de 1 hora de carro), poder visitá-lo e passar algumas horas acompanhando seu trabalho e processo construtivo é um privilégio.

Separei dois links onde tem-se o trabalho de Morito, um é o site dele (www.moritoebine.com) e o outro é de um vídeo que o Itaú produziu (http://youtu.be/h7qwavYhYwQ). O trabalho dele é tão singular que tem muita informação na internet sobre. Vale a pena pesquisar!!!

Na minha segunda visita fiz alguns registros que gostaria de compartilhar. A ideia foi pegar o processo produtivo da Oficina, um dos destaques do trabalho de Morito. Deixei as fotos em bom tamanho e acompanhadas de comentários e descrições.

Uma geral da Oficina

Morito no primeiro plano, Wagner e Marcelo logo ao fundo. O primeiro fazia adequações em um Gabarito, enquanto os outros dois estavam na produção de Cadeiras (Cadeira Weg, se não me engano). Em outras fotos haverão mais detalhes do processo.

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Morito é bastante conhecido pelo processo construtivo de suas peças estar relacionado com o uso de gabaritos. Muitos deles ficam guardados, como que em Kit’s, outros tantos pendurados na estrutura do telhado. Visualmente muito agradável.

Em uma das portas de acesso

Falando em estrutura, a do telhado também tem o travamento com cravilhas enormes de madeira. Há informação por todos os cantos.

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É comum vermos a utilização de JIG’s na Marcenaria. No entanto, os Gabaritos são únicos para uma peça que já veio de outra interferência e que naquele momento tem de ser aparada de uma determinada forma. No caso, um encosto de cadeira que na tupia recebeu uma ‘corte’ para arredondar o canto da peça. Vê-se o mesmo efeito no outro lado do encosto. Quando se observa as inúmeras faces do encosto, a multiplicação das intervenções na peça para obter o resultado final é realmente fascinante.

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Aqui Morito com um Gabarito muito legal, que trabalha em etapas distintas para cada metade da peça. Com isso, ele padroniza o formato do encosto da forma que o definiu. Além da funcionalidade, o Operador trabalha de maneira muito cômoda e segura. A tupia trabalha como se estivesse num half pipe (na verdade está).

Gabarito na Serra Circular

Uma das faces do braço da cadeira é obtida através deste gabarito. Nota-se que em muito dos gabaritos as peças são prensadas por toogle clamps. Com isso, o Operador não se expõe ao risco ao tentar conter a peça… além da precisão no corte. Ao se fazer uma ou cem cadeiras, todas elas serão minimamente parecidas.

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Wagner, um dos Marceneiros que trabalham no Atelier, opera a Serra de Fita com um dos Gabaritos que trabalham o encosto da Cadeira. Este, no caso, faz o corte de inclinação do encosto, o que seria muito difícil “na mão”, ainda mais quando se fala na replicação de um modelo já consagrado. A exposição do Operador é minimizada pela forma que trabalham e nisso o Morito se mostra muito preocupado.

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Nesta foto conseguimos ver o conjunto de peças já trabalhadas no Gabarito anterior, com destaque para a inclinação inserida no encosto. Os furos (ou furas) também foram obtidos a partir de outro Gabarito, desta vez, numa furadeira horizontal.

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O antes e o depois do Gabarito da Serra de Fita.

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Enquanto Wagner trabalha com o encosto, o Marcelo opera com os assentos da mesma cadeira. Após executar um corte ao longo de toda a peça dá-se acabamento na lixa. Ao vermos a peça do assento nota-se uma série de outras passagem, como o formato da ‘poupança’ e o trilho por onde correrá o encaixe.

Xiloteca

A foto da Xiloteca é clichê e, por isso, indispensável. A madeira é a essência do lugar e sua variedade e texturas inspiram.

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A Marca do Atelier de Morito Ebine e o Ano de produção.

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Detalhe dos encaixes (sensacional!!) e do acabamento em andamento. O acabamento que mais vi por lá foi a base de óleo e quem o executa é o William, irmão do Wagner. O ambiente é familiar!

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As cunhas já estão prontas, separadas pela espécie da madeira e tamanho.

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Um cantinho com ferramentas elétricas, mas as manuais são as mais interessantes (e sem fotos…risos).


Como comentei anteriormente, visitar o Atelier de Morito é um privilégio. E não só pela experiência de presenciar a execução de uma trabalho singular, mas, também, pelas pessoas que lá estão. Os Marceneiros que trabalham no Atelier também compartilham de seus conhecimentos, o Vizinho que hora ou outra passa por lá e troca um dedo de prosa, a Mantiqueira que acomoda este espaço tão bacana, com muitas aves cantando ao seu redor. Além dos Cães que recepcionam aqueles que lá chegam.

Morito Ebine é uma figura a parte. Sempre preocupado se você entendeu aquele processo ou execução. Um anfitrião muito atencioso.

Recomendo a viagem até Santo Antonio do Pinhal para conhecer o trabalho do Atelier e esta turma toda.

Abraço,

Vinicius

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Dizem que os olhos…

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..são o espelho da alma

1° Passarinhando em Gonçalves com RAFAEL FORTES!

O amigo e um dos melhores Guias de Observação de Aves do Brasil, Rafael Fortes, em conjunto com a Pousada Bicho do Mato, organizou um fim de semana dedicado a Observação e Fotografia de Aves nas altas Montanhas da Mantiqueira, nas regiões mais preservadas de Mata Atlântica e Campos de Altitude do Sudeste.

Vejam o Cartaz com os detalhes!

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Aves de Gonçalves – MG

Aves de Gonçalves é uma exposição que reúne uma seleção de fotografias de espécies que ocorrem na região de Gonçalves. Com um relevo de altitude variada e diferentes tipos de ambiente, o município possui, conseqüentemente, uma vasta riqueza de plantas e animais.

Hoje, em função do desmatamento, cerca de apenas 7% da Mata Atlântica, que já ocorreu em todo o Leste brasileiro, sobrevive ao corte ilegal e as políticas ambientais que as tornam mais vulneráveis. Um dos ambientes de destaque na região de Gonçalves é a Mata de Altitude, representada principalmente pelas Florestas de Araucária. Estes ambientes abrigam espécies vegetais e animais endêmicas, ou seja, que só existem nele. Com a extinção destas Florestas tem-se, também, o risco de extinção de plantas como o Xaxim, mamíferos como o Macaco Mono-Carvoeiro e aves como Caneleirinho-de-chapéu-preto.

Por essa biodiversidade e pela estrutura hoteleira que possui, Gonçalves apresenta potencial forte para o turismo de Observação de Aves, que tem se tornado importante ferramenta para a educação e a preservação ambiental. Com base nos trabalhos de levantamento de Avifauna realizado pelo Ornitólogo Marcelo Vasconcelos e Santos D’Angelo, um projeto de mapeamento dos pontos favoráveis á prática da Observação de Aves está sendo feito por Rafael Fortes e Vinicius Pontello, identificando pousadas, estradas e propriedades particulares que abrigam trechos de mata conservada em seu domínio.

Trepadorzinho (Heliobletus contaminatus) l Foto: Rafael Fortes

Trepadorzinho (Heliobletus contaminatus): espécie normalmente florestal de matas úmidas. Vive frequentemente na copa das árvores, onde pode ser visto acompanhando bandos mistos e retirando musgos e liquens das árvores à procura de insetos para se alimentar.
Foto: Rafael Fortes

Foi com este texto que apresentamos a Exposição em Gonçalves, que ocorreu por dois finais de semana no Clube Recreativo da cidade, durante o 3° Festival de Inverno, e que permanecerá na Pousada Bicho do Mato. As 12 fotografias apresentadas na exposição foram feitas em Gonçalves.

Nosso intuito era registrar as espécies locais, desde aquelas consideradas endêmicas, de ambientes específicos, até espécies mais comuns, as quais convivem com freqüência com os moradores locais.

O espaço do Clube Recreativo, onde ocorreu à exposição, foi palco ainda de várias outras atividades do Festival de Inverno, como apresentações musicais e teatrais, oficinas, feira de artesanato regional, ponto de encontro de saídas fotográficas, dentre outras. Neste contexto, as Aves passaram a fazer parte do ambiente do Festival, sendo observadas pelos Gonçalvenses e Turistas que circulavam e participavam do Festival.

Nos momentos que ficamos por lá foi muito interessante observar a reação dos visitantes, que nos indagavam sobre espécies que freqüentavam suas casas, algumas aves que costumam avistar, mas não sabiam identificar, ou ainda, observações como “este passarinho não existe aqui em Gonçalves” destacada por um senhor ao ver o cavalete com uma foto de um Tangará-dançarino, que convidava as pessoas a adentrar no salão onde ocorria a exposição. Situações como estas nos mostram quão grande é nossa missão em relação à conservação da natureza e o pouco conhecimento que temos sobre os habitantes das matas.

Arapaçu-escamado-do-sul (Lepidocolaptes falcinellus) l Foto: Vinicius Pontello

Arapaçu-escamado-do-sul (Lepidocolaptes falcinellus): ocorre do sudeste do Brasil, principalmente nas montanhas, para o sul. Essa espécie gosta muito de procurar os insetos que se alimentam em matas de araucárias. Tende a desaparecer onde a mata é perturbada ou cortada.
Foto: Vinicius Pontello

Para complementar as imagens acrescentamos uma legenda descrevendo o nome comum e cientifico de cada espécie, além de um texto breve que apresentava cada ave, destacando suas características físicas e biológicas. Os textos elaborados pelo amigo e ornitólogo Marco Aurélio Crozariol estavam em perfeita sintonia com as fotografias, sensibilizando ainda mais o observador em relação à ave registrada. Neste post são apresentadas duas fotos da Exposição com os textos elaborados por Marco A. Crozariol.

Com a missão de envolver os Gonçalvenses nas atividades do Festival de Inverno, os organizadores do evento promoveram atividades com as escolas e suas crianças. Através desta ação, as crianças puderam retratar suas experiências com as aves as quais convivem e, também, com aquelas observadas durante a exposição por meio das fotografias impressas e projetadas em telão pelas organizadoras, que posteriormente se transformaram em desenhos e foram expostos no salão do Clube Recreativo juntando-se aos nossos registros. A passarinheira Isabel Lira foi quem organizou esta atividade com as crianças e destacou com entusiasmo as reações das mesmas, além das inúmeras histórias relatadas pelos pequenos.

Toda esta dedicação que temos tido com Gonçalves e que chamamos de projeto tem a missão de conscientizar não só os moradores locais, mas também os turistas. Com o desenvolvimento do nosso trabalho estamos conhecendo e obtendo informações de áreas as quais visitamos e passarinhamos, conversando com os proprietários e vizinhos sobre o que temos observado, ressaltando sobre a importância daquela área, da beleza daquela ave, da alegria em contemplar tudo isso.

O projeto tem um prazo e vigência infinita. Desejamos que o trabalho de cativar e conhecer a região não se encerre. E para isso atividades serão promovidas com este fim, como passarinhadas guiadas, divulgação das aves observadas, novas exposições e atividades culturais, Guia de Aves da região, etc.

Como se tem de valorizar quem prestigia, é imprescindível que não esqueçamos de agradecer aqueles que ajudaram de todas as formas este ponta-pé inicial: III Festival de Inverno de Gonçalves, COAVAP – Clube de Observadores do Vale do Paraíba, Departamento e Conselho de Turismo de Gonçalves, Elizangela Costa, Isabel Lira e Pousada Bicho do Mato, Letícia Pizetta, Marcelo Peneluppi, Marcelo Vasconcelos, Marco Aurélio Crozariol, Santos D’Angelo Neto, Regina Pontello, Renato Pontello, Sergio Coutinho, Tullio Pontello.

 

[ LOGO ABAIXO UMA GALERIA DE FOTOS DO PROJETO “AVES DE GONÇALVES” ]

 

::: GONÇALVE-SE :::

E quando o Mar não ta pra Peixe ?

Foi este o tema que achei mais apropriado pra relatar minha passagem pelo Parque do Zizo. Este é um Parque Particular situado em Tapiraí, mas o acesso é por São Miguel Arcanjo – ambos em SP – bem próximo aos famosos Parques Estaduais Carlos Botelho e Intervales, na Serra de Paranapiacaba. O Zizo possuí 300ha de Mata Atlântica, mas o que mais chama a atenção por lá é o grau de conservação do lugar, é impressionante. Já visitei alguns outros trechos deste tipo de Floresta, mas lá é diferente!

Comecei a odisseia logo num sábado cedo e de feriado com o Sergio Coutinho rumo a São Bernardo do Campo. Lá nos encontramos com o Mathias Singer, que eu ainda não conhecia, e seguimos pra São Miguel Arcanjo. Sendo feriado era certo que iríamos pegar transito na Rod. Castelo Branco, dito e feito! Até que se chegue nos arredores do Zizo é tudo muito comum, muito pasto, muito eucalipto e alguma lavouras e, até então, bastante sol. Mas logo que começamos a sair de floresta de eucalipto e nos aproximar da Mata Atlântica vimos uma grande névoa/cerração e uma queda boa de temperatura. Tamo chegando!!!

A Mata Atlântica é conhecida internacionalmente por Rainforest (do inglês rain/chuva e Forest/floresta) e o termo técnico da biologia que a determina é Floresta ombrófila densa. Ombrófila é de origem grega e significa “amigo da chuva”. Ou seja, este tipo de ambiente possui uma precipitação de chuvas bem distribuídas ao longo do ano e um período seco muito curto.

Desde que vi uma foto que o Marigo fez deles, passei a ser alucinado pela espécie.

Tietinga (Cissopis leverianus)

Foto feita ao lado da janela dos quartos da Pousada.  Repare, ao fundo da foto, quanta cerração.

Jacutinga (Aburria jacutinga)

A expectativa para o feriado de Novembro de 2011 era de observar muitas aves diversas, além de vários outros bichos. Mas o tempo não foi nosso grande aliando, afinal se alguém estava interferindo e querendo algo a mais éramos nós. Mesmo sabendo que o ambiente é característico de dias nublados e chuvas, a esperança era grande.

Logo após o almoço fomos percorrer uma trilha mais tranquila, por onde o Octavio Salles – nosso Guia – já tinha ido dar uma sondada no que estava rolando. As trilhas lá são fantásticas, as árvores são imensas, paira uma luz tênue e mágica, é tudo muito denso e úmido. Pelo fato da temperatura ter caído naquele dia, via-se que a Mata estava quieta e assim seguimos para uma outra trilha onde havia um mocó (esconderijo) instalando. Nele, Octavio e Guilherme Ortiz desenvolviam uma pesquisa observando um casal de Maria-leque-do-sudeste e seu ninho.

Ver esta espécie era um desejo muito grande e a viagem já teria valido a pena só pelas oportunidades que tive de observá-la e registrá-la. Como se não bastasse, a fêmea se sentia muito confortável com a nossa presença por ali, se alimentava e construía o ninho normalmente e alguns instantes chegou a se aproximar bastante, cerca de 3 ou 4 metros. Já o macho ficava no outro lado do riacho e sempre era visto dando mergulhos no ar, caçando insetos. Sem contar no Pula-pula-ribeirinho que o tempo todo ficou no entorno do mocó, quase que entrando dentro dele…simpático por mais de metro!

Ainda tivemos a oportunidade de ver várias outras aves, como a Jacutinga, Caneleiro, Pimentão, Saíra-sete-cores, Sanhaçu-de-encontro-amarelo, Araçari-banana, Enferrujado, Choquinha-de-garganta-pintada, Verdinho-coroado, Viuvinha, Miudinho, Irré, Limpa-folha de-testa-baia, Capitão-saíra, Capitão-castanho, Tietinga, Tiê-preto, Anembé-branco-de-rabo-preto, alguns beija-flores e um macuco correndo na estrada!

Maria-leque-do-sudeste (Onychorhynchus swainsoni) - Fêmea

De fato a chuva e a cerração intensa não colaboraram muito para que saíssemos nas trilhas, rolando mais fotografarmos o que pintava no entorno da Pousada, como o Caneleiro e o Enferrujado que faziam ninho por ali. Mas também foi uma ótima oportunidade de explorarmos outras muitas coisas que ocorrem naquele ambiente tão rico, como foi o caso de alguns anfíbios, répteis e mamíferos.

Numa das trilhas que começamos a fazer, vimos uma grande movimentação na copa das imensas árvores. Era um enorme bando de Mono-carvoeiros ou Muriqui-do-sul que se alimentavam. Penso que o bando devia ter mais de 20 indivíduos, que alcançam cerca de 1,5 metros de tamanho, sendo ele o maior primata do continente americano, habitando exclusivamente a Mata Atlântica. Como sabemos, hoje resta cerca de somente 7% do que havia da Mata Atlântica e espécies como o Mono-carvoeiro tem alto risco de extinção pela destruição e a fragmentação do habitat, que leva ao isolamento das populações e gerará problemas relacionados com a consangüinidade, isso sem contar com o risco de que ainda são caçados (!!!??). Embora nosso encontro não tenha sido tão breve, não foi fácil fotografá-lo, pois o bando se movia relativamente rápido pela copa de árvores bem altas. Conseguimos identificar a “trilha” que faziam pela mata e os acompanhamos por um bom trecho. O momento foi mágico, daqueles de tirar o fôlego e vermos nossa pequenez neste mundo tão doido e egoísta que construímos.

Maria-leque-do-sudeste (Onychorhynchus swainsoni) - Macho

Mas já que o Mato não tava pra Ave, em função do mal tempo, decidimos procurar algumas coisas interessantes no entorno da Pousada. Começando a anoitecer os anuros começam a fazer sua cantoria, e o laguinho logo ali perto seria um prato cheio para encontrar alguns. Com o cenário não seria necessário se preocupar, pois o laguinho é densamente rodeado de helicônias e lindas bromélia, algumas delas com coloridas inflorescências. Eu e o Serginho estávamos doidos pra testar algumas fotos usando nossos flashes remotamente.

Minha expectativa era encontrar a famosa e fotogênica Phyllomedusa distincta, ou perereca-das-folhagens. Mas desta ai nem sinal, nem som, já que seu canto é bem característico. No vai-e-vem da procura a mais encontrada foi a Dendropsophus elegans, ou perereca-de-moldura, em função de seu padrão de manchas. Seu nome cientifico faz menção ao seu habito arborícola e pela sua vocalização bem presente. Mas o mais bacana: achamos, por engando, uma Bothropoides jararaca, ou jararaca. Penso que ela estava por ali em busca de alguma rãzinha que desse mole. Ficou todo tempo na mesma posição, pacientemente esperando para ser fotografada e depois ir se alimentar.

Veja, logo abaixo, algumas destas fotos da Rã, do Lagarto, da Jararaca, do Enferrujado e do Caneleiro.

Outro bicho muito bacana que vimos e fotografamos foi um lagartinho que pensou estar camuflado em uma palmeira jovem na beira da trilha. Acho que ficamos uns vinte minutos fotografando e ela sempre na mesma posição, jurando que não estava sendo vista. Bacana foi acompanhar um pernilongo muito pequeno e quase transparente que fazia sua refeição nas costas do réptil, quando terminamos a “sessão” o bichinho estava quase estourando de tanto sangue.

No Zizo, tem muitas atrações além das Trilhas e da Mata propriamente dita. Os comedouros lá são muito bem frequentados, ainda mais na época de baixa oferta de alimento na Floresta. O Chico e suas Irmãs que recebem muito bem os visitantes, e fazem um rango muito bom, além das inúmeras histórias que contam e que enriquecem muito mais aquele lugar. O chuveiro á gás posso dizer que é um bom e importante atrativo para aquele que não dispensa um banho quentinho antes de deitar. Enfim, o que não faltarão são motivos para voltar a aquele lugar.

Perereca-de-moldura (Dendropsophus elegans)

Enferrujado (Lathrotriccus euleri)

Jararaca (Bothropoides jararaca)

Caneleiro (Pachyramphus castaneus)

Perereca-de-moldura (Dendropsophus elegans)

Não consegui identificar a espécie.

Abraços,

Vinicius – 24/03/12

Uma Chilena nas Gerais.

A Águia-chilena (Geranoaetus melanoleucus) é um grande rapinante, chegando próximo a 2 metros de envergadura, e mostra-se bastante imponente nos céus da Canastra. Mesmo antes de ir pra lá, lendo as dicas dos amigos e vendo as fotos postadas na região (pelo WikiAves) eu criei bastante expectativa de vê-la. E ela foi umas das primeiras que se mostrou! Logo que chegamos no Parque e conversava com os Guardas, uma passou voando bem baixo sobre a portaria. Foi impressionante, mas nem deu tempo de pensar em pegar a maquina. Bom, ali já percebi que não podia marcar bobeira e que muita coisa iria passar na nossa frente. Os guardas me mostraram o ninho dela, que fica em um enorme paredão de rochedo ao lado da portaria e algumas vezes era possível vê-la pousada numa arvore.


Assim que subimos a portaria o Amigo Eduardo Veríssimo anunciou em sua carta-roteiro-guia mais um ponto onde seria possível vê-la. Dito e feito… ficamos um bom tempo observando-a voar, vocalizar, peneirar e fazer mergulhos no solo.

Foram muitas as vezes que a vimos no parque. Sempre rodando nos lugares comentados. Mesmo que de longe sua presença era marcada. Praticamente a vimos todos os dias!

Numa tarde, quando estávamos indo embora do Parque havia uma que vocalizava muito, era impressionante a potencia e o tempo que permaneceu vocalizando. Mas vê-la não era tão fácil, pois muitas vezes estava bem longe. Minha idéia era de “fazer um tempinho” na Portaria para ver se conseguia fotografá-la. Ouvia a vocalização muito de longe, mas da Águia nem sinal.

Logo a frente da Portaria há um morro que funciona como um mirante, já que o lugar é uma Serra e logo na frente dele tudo é muito amplo. Este morro fica de frente ao paredão onde a Águia mantém seu ninho. Prossegui subindo o morro, até porque por ali habita o Campainha-azul. O morro é bem inclinado e todo lajeado, o que dificulta andar, ainda mais com um tripé! Neste caminho vi algumas andorinha (que não me recordo qual) e o Sanhaçu-de-fogo que deu uma pausinha breve em um arvoredo.

A vocalização da ave havia cessado. Mas assim que comecei a subir este morro a vocalização voltou com intensidade e quando dei conta a Águia-chilena estava vindo em minha direção. Mal conseguia me equilibrar no trecho da trilha, ajustar o tripé e a maquina foi algo bem mais complicado. Ela veio muito próxima e ficou rodando sobre minha cabeça, consegui fazer alguma fotos, mas boa parte do tempo eu fiquei observando sua beleza. Seu tamanho, detalhes, vôo limpo… ..a sensação de interagir em um ambiente daquele é fantástico. Pela distancia que estava do ninho (centenas de metros) não imagino que pudesse ser um ameaça ao filhote. Ela permaneceu piando e rodando e logo depois apareceu mais um individuo, que juntos sumiram no céu da Canastra.

Não consegui muitas fotos boas, pois tive muita dificuldade em ancorar parte do tripé naquela trilha cheia de pedregulhos, além da inclinação do morro e da velocidade da ave. As cenas mais bacanas estão comigo, guardadas junto do anseio de voltar a vê-la neste lugar tão especial, a Serra da Canastra. Algumas fotos não “couberam” a ave no sensor!!!

A Águia-chilena ocorre em quase todo o Brasil, com exceção da região Norte. É possível ver fotos dela tanto no Rio Grande do Sul como no Ceará. Ocorre também na Cordilheira dos Andes até o sul da Argentina. Esta espécie costuma fazer sempre o uso do mesmo ninho, por isso a possibilidade de vê-la aumenta quando já se observou ela nidificando em algum local. No Brasil, seu status de conservação é pouco preocupante, embora em algumas regiões, como o RS e SC a ameaça é eminente, e a espécie encontra-se em estado de vulnerabilidade.

Sendo uma ave deste porte e que necessita de um espaço relativamente grande como habitat, me pergunto sempre qual será o teu futuro. Nossas gestões políticas ainda insistem em manter o sistema de beneficio próprio. Neste caso especifico, o deputado federal Carlos Melles (DEM-MG) quer diminuir a área do Parque Nacional da Serra da Canastra em 24%, tornando este espaço passível de atividades econômicas até então proibidas pela leis de proteção ambiental. A coincidência disso tudo é que o tal deputado possui uma propriedade de 254 hectares em Delfinópolis, que fica entre os Vales da Curita e da Babilônia, e esta região seria uma das contempladas pelos projetos de leis de sua autoria (1.448/07 e 1.517/07).

Achou coincidência demais!!!!! …assine o abaixo-assinado contra este projeto, afinal legislar em causa própria é ser pouco liso!

Quer saber mais sobre este projeto de lei, leia este post do Noblat .

Abraços e um 2012 muito melhor para a Natureza do que foi este 2011.

Vinicius Pontello

Prólogo

Prólogo é a introdução, um discurso preliminar, o preâmbulo. Acho que até por isso deveria ter sido este o post de abertura do meu blog, mas “queimar a largada” é comigo mesmo.

Prólogo também foi o primeiro álbum de um grande Amigo e Mestre, Sidnei de Oliveira.

Eu o conheci num show de outro Violeiro, o Pereira da Viola, um dos nomes mais importantes em relação a cultura nacional e a Viola de 10 cordas. Pereira agradecia a presença de todos ali e ao melhor violeiro do Brasil, Sidnei.

Bom, eu que achava que conhecia alguma coisa de Viola fiquei encafifado, pois achava que deveria saber quem seria o melhor do Brasil. Mas, como disse, “queimar a largada” é comigo mesmo. Assim que acabou o show fui trocar uma idéia com ele.

Enfim, acabei virando aluno dele e fui cada vez mais aprofundando em musica e em Viola Caipira.

Sidnei foi o ganhador do Primeiro Prêmio Syngenta de Viola Caipira, o mais importante que rolou para o instrumento. Ele tocou uma composição própria em afinação Rio Abaixo. Veja só como foi a apresentação!

Assim como todo bom musico, a peleja para conseguir divulgar seu trabalho era imensa e o projeto para a gravação de seu primeiro álbum solo já corria na tentativa de conseguir um patrocínio.

Este assunto era recorrente em nossas conversas e sempre quis saber um pouco mais dos projetos. Varias inscrições em programas de incentivo a cultura rolavam, mas, o que não rolava era a aprovação. A mistura da Viola Caipira com a musica clássica ainda não é algo tão aceito pelos “classúdos” ou pelos “matutos”

Um dia ele recebe a aprovação do seu projeto num programa de apoio pela FUNARTE. Um edital que aprovou um número bem enxuto de projetos e com um monte de gente cascuda. Muito merecido.

O projeto tinha um verba também enxuta e foi ai que ele me propôs:
– Você não quer fazer as fotos da gravação em estúdio?
– Respondi: Carpaccio, eu?

Mas, lógico que não deixaria de ajudar o Amigo, pois sabia que minha contribuição seria importante para ele.

Senti o peso da responsa e fui atrás de saber um pouco mais de fotografia para tentar atender o mínimo de suas expectativas.

As coisas foram rolando e consegui acompanhar parte das gravações e fiz algumas fotos, além de outras que fiz em alguns shows que ele tocou.

Meu Irmão Renato Pontello também participou do álbum, sendo o Criador da capa, do layout do encarte, Ilustrador e tudo mais. Veja como ficou!

O disco é lindo e você poderá baixá-lo aqui!!

Desculpe um texto tão grande, mas é impossível falar pouco deste Cara que contribuiu tanto para minha formação na musica, como pessoa e em fotografia. Sua atitude me fez ir atrás da Fotografia e hoje sou dela, de alguma forma.

Rolinha-roxa

Rolinha-roxa - Columbina talpacoti

A Rolinha-roxa, ou ainda, Caldo-de-feijão, como é conhecida em alguns lugares do País foi uma das primeiras espécies brasileiras a se adaptar as cidades, sendo ela, ainda hoje, a mais comum em alguns destes locais. Seu habitat original são os campos e áreas de Cerrado, mas é mais comum encontrá-la em locais alterados pelo homem. Ela ocorre em todo o Brasil, mas não em áreas densas da Floresta Amazônica.

Este da foto é um macho adulto, já que possui penas marrom-avermelhadas que contrastam com a cabeça cinza. Já as fêmeas são pardas. É possível observar, em ambos os sexos, uma série de pontos negros sobre as penas da asa.

A foto eu fiz em Gonçalves, lá no Cafundó. Mantemos comedouros com frutas e grãos e é neste ultimo o que as Rolinhas frequentam.

Abertura do Blog

Galito - Alectrurus tricolor

Olá Amigos, bem vindos!

Estou na peleja com a intenção manter um Blog com as fotos que tenho feito nas minhas poucas andanças. Minha intenção aqui é partilhar com os Amigos dos sentimentos que tive ao observar e fotografar aquele instante, aquele animal, aquela cena. Enfim, penso que se não houver partilha toda a alegria será em vão!

Fiz questão de abrir o Blog com esta espécie, o Galito. Tal espécie tem hoje sua população em intenso declínio em função do desmatamento do Cerrado. Em alguma regiões, como o estado de São Paulo, o perigo é ainda maior. Infelizmente o rumo que estamos tomando para o desenvolvimento do Brasil tem condenado muitos ambientes e espécies. Sem duvida alguma isso nos leva a refletir sobre qual papel possuimos no mundo de hoje, bem como, das nossas atitudes para reverter este cenário.

A ave da foto é um macho passando pelo período reprodutivo, quando as penas de sua cauda se prolongam e alargam.

Seu nome científico tem relação também com isso. A palavra grega alectrus tem significado relacionado a galos com cauda. Já o tricolor é do latim, e se refere a três cores. A fêmea tem uma colocação parda, além de garganta branca e as asas e cauda mais escuras.

Esta foto fiz em uma viagem de férias com a Letícia, minha namorada. Conhecer a Serra da Canastra era um sonho desde moleque e que tive a oportunidade de fazer agora que possuo a prática da fotografia, o que foi muito bom. Eternizar momentos e encontros que tivemos por lá foi sensacional!

Encerro aqui meu primeiro post. Espero que tenham gostado e que eu esteja no caminho certo.

Abraços,

Vinicius Pontello